O que é e como aparece?
A entorse do tornozelo é uma das lesões mais frequentes no desporto (football, tennis, basketball, etc). É causada por um movimento de torção ou rotação que ultrapassa o limite normal da articulação. Pode variar desde uma distensão leve até uma rotura completa dos ligamentos. Aproximadamente 20% das pessoas que têm uma entorse do tornozelo, vão ter lesões posteriormente.
As entorses podem ser classificadas por localização: lateral (inversão), medial (eversão) e alta (sindesmótica).
A lesão lateral ocorre por inversão do pé quando este se encontra em flexão plantar (ex.: pisar em buraco). As mediais ocorrem em eversão forçada, e geralmente associada a um trauma de maior energia. As entorses altas ocorrem com o pé em rotação externa e em dorsiflexão.
São vários os fatores de risco para ocorrer uma entorse:
- Fatores Intrínsecos (relacionados com o indivíduo)
- histórico de entorses anteriores (70% dos casos de entorse recorrente têm histórico de lesão anterior mal reabilitada);
- déficit de propriocepção e controle neuromuscular;
- hipermobilidade ligamentar generalizada (ex: síndrome de Ehlers-Danlos) ou fraqueza muscular;
- pé cavo;
- assimetria de membros inferiores/ desalinhamento biomecânico do membro inferior (ex.: joelho valgo ou varo);
- condicionamento físico (fadiga muscular, reação neuromuscular diminuído);
- Fatores extrínsecos
- uso de calçado inadequado para o terreno ou desporto (ex: chuteiras baixas ou tênis de corrida muito flexíveis em terrenos irregulares).
- tipo de desporto (os que envolvem saltos e aterragens, mudanças bruscas de direção ou contacto físico, ou superfícies instáveis)
Quais os sintomas?
Os sintomas mais comuns de uma entorse do tornozelo são a dor (geralmente localizada na parte lateral do tornozelo) associada a edema ou equimose local. Consoante a gravidade da lesão pode haver dificuldade em apoiar o pé no chão e impossibilitar mesmo a marcha.
A maioria das entorses do tornozelo resolvem nas primeiras semanas após o traumatismo. Porém, apesar de uma boa reabilitação, em alguns doentes, pode persistir dor local, sensação de instabilidade ou giving away (que o tornozelo cede) ou mesmo entorses de repetição, o que denominamos de instabilidade crónica do tornozelo.
Como se faz o diagnóstico?
Ao exame objetivo, na inspeção podemos observar o edema ou hematoma local. Podemos suspeitar dos ligamentos lesados pela reprodução de dor na palpação local dos ligamentos. Devemos ainda palpar o bordo posterior da extremidade distal do peróneo e tibia, base do 5º metatarso e navicular para excluir a possibilidade de fraturas associadas. É necessário avaliar a gravidade da lesão ligamentar e instabilidade através de testes específicos como o teste da gaveta anterior, talar tilt ou testes de instabilidade da sindesmose.
Geralmente o estudo é complementado com exames auxiliares de diagnóstico, como a radiografia para a exclusão de fraturas e a ecografia para avaliação ligamentar. Quando avaliamos uma situação mais crónica, o Rx pode ser realizado em stress (gaveta anterior, inversão forçada ou em rotação externa). A RMN é o gold standard, pois é o melhor exame para observarmos os ligamentos, tendões, avulsões capsulares e permite ainda avaliar lesões osteocondrais, pequenas áreas de osteonecrose, osteocondrite dissecante e contusões ósseas.
Qual o tratamento?
O tratamento deve começar com o tratamento conservador.
Tratamento conservador
O tratamento de uma fase aguda de uma entorse do tornozelo consiste, nas medidas gerais anti-inflamatórias (repouso, elevação, gelo e medicação analgésica) e na evicção das atividades que provocam a dor. Outro dos componentes fulcrais do tratamento inclui a reabilitação funcional do tornozelo (exercícios de propriocepção, fortalecimento dos peroneais e tibiais, reeducação da marcha, treino de estabilidade e equilíbrio e o retorno progressivo à atividade desportiva).
Quando estas medidas não são suficientes, podemos avançar para terapias mais invasivas como as injeções de plasma rico em plaquetas (PRP).
Tratamento Cirúrgico
Em casos de instabilidade crónica do tornozelo (manutenção de sintomatologia apesar de um tratamento conservador realizado corretamente) a cirurgia é o tratamento indicado, para estabilizar o tornozelo. Atualmente na maioria dos casos pode ser tratada através da artroscopia anterior do tornozelo. São realizadas duas pequenas incisões de cerca de 1cm cada, uma para a introdução da câmara e outra para o portal de trabalho. O tratamento inclui a reparação ligamentar do tornozelo e o tratamento de lesões concomitantes associadas.
No caso do tratamento cirúrgico como é o pós operatório?
- Pode caminhar com o auxílio de canadianas até ao primeiro penso
- Primeiro penso pós-operatório na avaliação da 1ª consulta.
- Colocação de tornozeleira e inicia carga conforme tolerar.
- Retira pontos na avaliação da 2ª consulta.
- Início da fisioterapia, após a retirada dos pontos. Para ganho de mobilidade articular (ativa e passiva) e exercícios de resistência com aumento gradual da força.
- Remoção da tornozeleira às 6 semanas